sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Texto novo

 É tanta coisa

A chuva que cai

Forte

O garoto no guarda-roupas

É mais seguro

O Chevette atravessado na rua

A chuva fazendo baliza

O armário perdido,

O comércio falido

O espírito fudido

Se liga, o mundo regredindo

A TV transmitindo.


Salva, o sorriso reluzindo

O beijo estralando

Ah

O mundo esquecido.


Foda, o salário mínimo

O trabalho contínuo

A dívida subindo 

A alívio se esvaindo

E o povo perdido

Se liga, o mundo regredindo

A TV transmitindo


Salva, o sorriso reluzindo

O beijo estralando

O mundo esquecido

Ah.


É tenso

A correria do dia

Para o trabalho ou da polícia

Não é favela, mas é o gueto

Onde não se é branco nem preto

Não é brando nem peso

É tenso, no relento

Se liga, o mundo regredindo

A TV transmitindo


Ah

Salva o sorriso, sorrio

O beijo estralando, amo

O mundo esquecido, por um momento não sinto

Salva o sorriso.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Vida (ato 1)

O mundo

Tão grande como sempre foi

O bairro

Pequeno, mas que me põe mais medo que o mundo

Pessoas...

Pessoas para agradar, sustentar, amparar

São as pessoas, não o mundo

Uma lata no chão

Uma garrafa no mar

E o mundo, que é belo, sucumbirá.


segunda-feira, 1 de junho de 2020

RIP


De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha
Você esconde a mão, diz que é Napoleão
Boa parte de mim acredita que sim
Se eu converso com ar, no meio do jantar
Você espera a vez dele de falar
Você fala chinês pela primeira vez
Eu dou opinião num perfeito alemão
Se eu emito um som que você acha bom
A gente faz um dueto fora do tom
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha
Você fala chinês pela primeira vez
Eu dou opinião num perfeito alemão
Se eu emito um som que você acha bom
A gente faz um dueto fora do tom
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha

sábado, 2 de maio de 2020

Voltaremos a velejar

Pensei esses dias
Foi enquanto tomava banho,
Lavando a louça, ou preguiçoso na rede
Não sei bem
Mas pensei na necessidade de reconstrução
Reconstruir é coisa da vida
Quando criança reconstruímos pirâmides com blocos de montar
Na adolescência reconstruímos nossa identidade constantemente
Já adultos, reconstruímos nossos lares, internos e externos

É uma longa jornada essa da reconstrução, não acaba nunca
O fato é, meu amor, que quando essa quarentena passar
Quando os barcos voltarem a zarpar
Os aviões voltarem a decolar
Vamos reconstruir nós dois em um
Em águas mansas e agitadas
Em tempo bom ou ruim
Seguiremos
Extremos e dispostos
Quando o mundo acordar
Quando o cansaço acalmar
Voltaremos a juntos velejar

segunda-feira, 27 de abril de 2020

21 de junho de 2013

Seu coração era alvi-verde, isso ninguém podia negar. Estava na cara, no grito de "goooool! Alex, do Palmeiras" no futebol na rua. Na oração a São Marcos na hora de defender o pênalti no muro da vizinha. Ninguém negava que era alvi-verde. Porque era uma festa quando o time ganhava: "esse ano é tudo nosso". Era as lágrimas quando o jogo não dava certo. Dizia que o lateral não deveria ter jogado tão recuado "tá chamando o outro time", ou era o atacante que tinha o pé torto.

Foi um ano difícil aquele 2003. Mas era alvi-verde, sem dúvida. Aguentou a zombaria de cabeça erguida. Não ligou para os gritos de "ão, ão, ão, segunda divisão". O que importava era acompanhar o time, na TV ou no rádio. Ser da torcida que canta e vibra. E teve aquele dia, lá pro meio do ano, 21 de junho, para ser exato. O Palestra estava lotado. Quase 28 mil torcedores. E ele estava lá, com sua camisa Parmalat, aquela que comprou em 98 e viu que aquilo era pra valer, era a paixão que levaria para a vida. Foi a primeira vez que sentiu aquela sensação que ninguém sabe explicar. A torcida gritando. A bateria tocando. Não dá para explicar.

Então surgiu uma coisa estranha. Uma admiração, um carinho. Quem viu sabe que não foi dos melhores jogos. Faltou inspiração. Decisão. O resultado refletiu bem o que aconteceu dentro de campo. Um 0x0 apagado, sem muita graça. Mas o que não faltava era emoção. Contaria essa história toda vida. A melhor história que o futebol já teve, poderia jurar que era. E dessa grande história surgiu o carinho pelo adversário. Descobriu que poderia ser alvi-verde e, ainda assim, gostar de um outro time. Percebeu de essa rixa de torcida é besteira, falta do que fazer. E em todas as discussões sempre ficou do lado da risada, independente da chacota. E quando perguntaram "por que você comprou uma camisa do Botafogo?" ele só riu e disse que a história era longa demais, precisaria de resumir 16 anos em alguns minutos. 

Há quem duvide que ele é alvi-verde. Mas ele sabe que ainda hoje, as cores estão atreladas a ele. Aquelas cores, que causam risos e lágrimas. E se hoje veste uma camisa do Botafogo, é porque já sabe bem quem é, porque a pele já está marcada, a história já está escrita. Seu coração é alvi-verde, mas seu espírito é boleiro e nostálgico, não nega nenhuma emoção do futebol bem jogado.